Golpes na internet e trabalho forçado em Mianmar: entenda investigação contra Starlink
Empresa de Elon Musk é acusada de fornecer conexões para centros que fabricam fraudes digitais contra vítimas online; bilionário pode ser convocado a depor
O comitê econômico conjunto do Congresso dos Estados Unidos iniciou uma investigação contra a Starlink sobre o possível envolvimento da empresa de Elon Musk em centros de golpes digitais em Mianmar.
Segundo o The Guardian, a investigação — iniciada em julho — procura o fornecimento da conexão da empresa de satélites a centros de fraude, que causam “bilhões de vítimas em todo o mundo”. Caso necessário, a investigação pode exigir que Musk deponha.
De acordo com uma investigação da Agência France-Presse (AFP), em fevereiro passado foi realizada uma operação no país para que tais centros de golpe fossem erradicados. Contudo, na época, “um grande número de antenas parabólicas Starlink começou a aparecer nos telhados” dos locais em Mianmar.
O jornal britânico afirma que a Starlink “surgiu do nada” no país, devastado por uma guerra civil decorrida do golpe de Estado no país em 2021 — que destituiu a mandatária Aung San Suu Kyi e estabeleceu um governo administrado por uma junta militar.
Mas agora, a empresa “se tornou a maior provedora de internet do país”, de acordo com dados do Centro de Informações de Rede da Ásia-Pacífico (APNIC).
Além de aplicar golpes online, método bastante conhecido no Brasil por meio de ligações e mensagens em aplicativos como WhatsApp, os centros de fraude baseiam seu esquema em trabalho forçado e tráfico de pessoas.
Na tentativa de erradicação dos locais em fevereiro, China, Tailândia e forças políticas contrárias à junta militar de Mianmar forçaram o governo provisório por medidas contra os centros de golpe. Cerca de sete mil pessoas, a maioria cidadãos chineses, foram libertados do que a Organização das Nações Unidas classifica como “um brutal sistema de call center”.

Satélite da Starlink
Official SpaceX Photos/Wikicommons
“Muitos trabalhadores disseram que foram espancados e forçados a trabalhar longas horas por chefes golpistas que visavam vítimas no mundo todo com golpes por telefone, internet e mídias sociais”, detalhou o Guardian sobre as condições que as pessoas eram submetidas nos locais.
Um relatório da ONU de 2023 notificou que até 120 mil pessoas podem estar em situação semelhante, “forçadas a realizar golpes online” nos centros de Mianmar.
Reação nos EUA
Em meio à investigação, a senadora Maggie Hassan, a principal democrata no comitê que investiga a Starlink, pediu que Musk bloqueie o serviço de sua empresa para os locais de golpe.
“Embora a maioria das pessoas provavelmente tenha notado o número crescente de mensagens de texto, ligações e e-mails fraudulentos, elas podem não saber que criminosos transnacionais do outro lado do mundo podem estar perpetrando esses golpes usando o acesso à internet da Starlink”, disse ela, citada pelo Guardian.
Já a ex-promotora da Califórnia, Erin West, que também é líder do grupo Operation Shamrock, que faz campanha contra tais centros, disse ser “repugnante que uma empresa americana esteja permitindo que isso aconteça”.
Segundo o Departamento de Tesouro dos EUA, os norte-americanos são os principais alvos dos centros de golpe no sudeste asiático, perdendo cerca de US$ 10 bilhões (R$51,5 bilhões) em 2024, o que representa um aumento de 66% em 12 meses.
A SpaceX, que é proprietária da Starlink, foi convidada a comentar a reportagem, mas não respondeu aos pedidos da AFP.























