Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O comitê econômico conjunto do Congresso dos Estados Unidos iniciou uma investigação contra a Starlink sobre o possível envolvimento da empresa de Elon Musk em centros de golpes digitais em Mianmar.

Segundo o The Guardian, a investigação — iniciada em julho — procura o fornecimento da conexão da empresa de satélites a centros de fraude, que causam “bilhões de vítimas em todo o mundo”. Caso necessário, a investigação pode exigir que Musk deponha.

De acordo com uma investigação da Agência France-Presse (AFP), em fevereiro passado foi realizada uma operação no país para que tais centros de golpe fossem erradicados. Contudo, na época, “um grande número de antenas parabólicas Starlink começou a aparecer nos telhados” dos locais em Mianmar.

O jornal britânico afirma que a Starlink “surgiu do nada” no país, devastado por uma guerra civil decorrida do golpe de Estado no país em 2021 — que destituiu a mandatária Aung San Suu Kyi e estabeleceu um governo administrado por uma junta militar.

Mas agora, a empresa “se tornou a maior provedora de internet do país”, de acordo com dados do Centro de Informações de Rede da Ásia-Pacífico (APNIC).

Além de aplicar golpes online, método bastante conhecido no Brasil por meio de ligações e mensagens em aplicativos como WhatsApp, os centros de fraude baseiam seu esquema em trabalho forçado e tráfico de pessoas.

Na tentativa de erradicação dos locais em fevereiro, China, Tailândia e forças políticas contrárias à junta militar de Mianmar forçaram o governo provisório por medidas contra os centros de golpe. Cerca de sete mil pessoas, a maioria cidadãos chineses, foram libertados do que a Organização das Nações Unidas classifica como “um brutal sistema de call center”.

Satélite da Starlink
Official SpaceX Photos/Wikicommons

“Muitos trabalhadores disseram que foram espancados e forçados a trabalhar longas horas por chefes golpistas que visavam vítimas no mundo todo com golpes por telefone, internet e mídias sociais”, detalhou o Guardian sobre as condições que as pessoas eram submetidas nos locais.

Um relatório da ONU de 2023 notificou que até 120 mil pessoas podem estar em situação semelhante, “forçadas a realizar golpes online” nos centros de Mianmar.

Reação nos EUA

Em meio à investigação, a senadora Maggie Hassan, a principal democrata no comitê que investiga a Starlink, pediu que Musk bloqueie o serviço de sua empresa para os locais de golpe.

“Embora a maioria das pessoas provavelmente tenha notado o número crescente de mensagens de texto, ligações e e-mails fraudulentos, elas podem não saber que criminosos transnacionais do outro lado do mundo podem estar perpetrando esses golpes usando o acesso à internet da Starlink”, disse ela, citada pelo Guardian.

Já a ex-promotora da Califórnia, Erin West, que também é líder do grupo Operation Shamrock, que faz campanha contra tais centros, disse ser “repugnante que uma empresa americana esteja permitindo que isso aconteça”.

Segundo o Departamento de Tesouro dos EUA, os norte-americanos são os principais alvos dos centros de golpe no sudeste asiático, perdendo cerca de US$ 10 bilhões (R$51,5 bilhões) em 2024, o que representa um aumento de 66% em 12 meses.

A SpaceX, que é proprietária da Starlink, foi convidada a comentar a reportagem, mas não respondeu aos pedidos da AFP.