O crescimento de Fernando Haddad na disputa
presidencial revela a eficácia da política conduzida pelo PT.
Inimigos, adversários e até aliados vaticinavam a derrocada da legenda. As
forças mais conservadoras sonhavam com um sistema político expurgado de
alternativa viável à esquerda.
O fracasso do governo Temer, ao qual estão fundidos os partidos de centro e direita,
especialmente o PSDB de Geraldo Alckmin, despertou o bloco golpista. O
aprofundamento da crise econômica e social, associado a escândalos de
corrupção, criava base material para possível recuperação do petismo.
As frações do sistema judicial comprometidas com o consórcio do impeachment
logo se movimentaram para impedir esse eventual renascimento. Seu alvo passou a
ser o ex-presidente Lula, soterrado por processos que o levassem à cadeia e o
impedissem de ser candidato em 2018.
Não foram poucas as vozes que passaram a pregar que o campo progressista só
teria futuro caso sua direção se deslocasse mais ao centro, com uma candidatura
externa ao petismo, como a de Ciro Gomes.
A condenação de seu líder histórico, no entanto, levou o PT a uma tática audaciosa:
sustentar a postulação de Lula, operá-la como instrumento de desobediência
civil, lançando imediatamente a campanha, na forma de caravanas pelo país.
Essa opção permitiu ao petismo se transformar em coluna vertebral da oposição
ao governo Temer, com o ex-presidente atuando como polo agregador da
insatisfação popular, ocupando a condição de franco favorito da corrida
presidencial.
Embora não tenha havido mobilização popular suficiente para desinterditar a
candidatura Lula, sob sua liderança criou-se forte coesão político-social
—especialmente entre os mais pobres—, decisiva para um novo nome poder ser
impulsionado.
Fernando Haddad não é propriamente um sucessor ou um candidato comum, aos olhos
da base eleitoral do PT e de Lula, mas representante do ex-presidente. Essa é a
fortaleza de sua candidatura, que poderia ser expressa pelo lema “Haddad
ao governo, Lula ao poder”.
Setores das elites mal disfarçam sua natureza antidemocrática, dispostos a agir
fora da lei para impedir o retorno do PT ao comando do Estado, mas também
manobram. Diante da provável falência das candidaturas de centro-direita,
especialmente a de Alckmin, tratam de embaralhar o passo da candidatura
petista.
Recorrem à ameaça de Jair Bolsonaro para pressionar por uma guinada ao centro,
capaz de “unir as forças democráticas”, exigindo tanto moderação
programática quanto afastamento em relação a Lula e à sua luta por liberdade.
Imaginam possivelmente criar fissuras que confundam o campo petista,
enfraquecendo a marcha batida de Haddad para o segundo turno e abrindo flanco
para o renascimento de alguma candidatura ao centro.
Ou, ainda, que ele vá para a iminente confrontação contra Bolsonaro desprovido
do compromisso antissistema, que é a essência da política que permitiu ao PT
retomar o fio da história e reencarnar a esperança de libertação do povo
brasileiro.
Breno Altman é jornalista e fundador do site Opera Mundi.
Este artigo foi publicado em 20 de setembro de 2018 na Folha de S.Paulo.
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