Nova correlação de forças no Congresso chileno aprofunda disputa entre Jara e Kast
Extrema direita cresce, direita tradicional perdeu espaço e governo mantém presença no Senado e Parlamento, mas sem garantir maiorias
O Chile renovou no domingo (16/11) toda a Câmara dos Deputados e parte do Senado em eleições marcadas pelo voto obrigatório e por um clima político atravessado pela disputa presidencial entre a candidata governista e militante comunista Jeannette Jara e José Antonio Kast, candidato ultradireitista do Partido Republicano. Com 99% das urnas apuradas, os resultados definem um Parlamento mais disperso, com retrocessos para a direita tradicional, avanços para a extrema direita e um governo que mantém força na Câmara Alta, embora sem maiorias claras.
No Senado, os votos foram para renovar 23 de um total de 50 membros. Os dados, portanto, mostram um equilíbrio quase perfeito entre os blocos. A aliança Unidade por Chile (governo + democracia cristã) soma 11 cadeiras, número maior ao alcançado pelo Chile Grande e Unido (direita tradicional), que sofreu um recuo significativo em relação ao período anterior, angariando cinco assentos.
Paralelamente, o bloco de extrema direita agrupado sob o Cambio por Chile — dominado pelos Republicanos de Kast e pelo Partido Nacional Libertário de Johannes Kaiser — obteve seis cadeiras, um dos saltos mais relevantes da jornada.
A eles se somam três senadores ecologistas e regionalistas, além de dois independentes fora do pacto. A composição final confirma que nenhuma força poderá legislar sem acordos e que o Senado se transformará em um espaço de disputas permanentes.
Novo Congresso
Na Câmara dos Deputados, a fragmentação persiste como característica estrutural do sistema político chileno. Os resultados preliminares indicaram uma tendência: os partidos Republicano e Nacional Libertário capitalizaram a virada conservadora e se instalaram como um polo dominante dentro do setor oposicionista, pois o bloco Cambio por Chile conquistou 42 cadeiras.
O bloco governista e progressista manteve liderança, mas sem conquistar maioria: 61 assentos. No total, 155 cadeiras estavam em disputa, sendo necessárias 78 para formar maioria.
Por sua vez, a direita tradicional, particularmente a União Democrática Independente (UDI) e a Renovação Nacional (RN), manteve presença, mas perdeu terreno em várias regiões, resultando em 34 cadeiras.
O novo Congresso será determinante para o segundo turno das eleições presidenciais de 14 de dezembro. Com Jara e Kast disputando de forma polarizada, nenhum dos dois projetos chega com maioria própria, o que antecipa quatro anos de negociações intensas e capacidade legislativa limitada.
A extrema direita chega fortalecida e com um discurso unificado que já antecipou seu apoio a Kast, enquanto o progressismo deverá construir alianças amplas para sustentar reformas trabalhistas, previdenciárias e de segurança pública.
O presidente Gabriel Boric comemorou a participação maciça com o novo sistema de voto obrigatório e pediu para “cuidar e aprofundar a democracia”, destacando o funcionamento do Serviço Eleitoral do Chile (Servel) e o trabalho dos membros e funcionários. Ele ressaltou a importância do novo Parlamento, lembrando que será essa correlação de forças que definirá a agenda legislativa em temas como segurança cidadã, direitos sociais e recuperação econômica.
Os resultados parlamentares confirmam que a ascensão de novos atores conservadores, o recuo de setores tradicionais e a necessidade de acordos cruzados configurarão um cenário aberto, em que a governabilidade dependerá de pactos capazes de superar uma polarização que, longe de diminuir, se aprofunda às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais.























