Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

Embora as pesquisas indiquem a liderança da candidata Jeannette Jara, do Partido Comunista, as eleições presidenciais no Chile, cujo primeiro turno acontece neste domingo (16/11), mostram também a força da extrema direita, que apresenta três candidaturas fortes e com chances de chegar ao segundo turno.

A disputa deste ano se diferencia de pleitos anteriores, nos quais a ligação com a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) costumava resultar em rechaço de grandes proporções a qualquer candidato.

Não é o que acontece desta vez, em que os partidos da direita tradicional minguaram, e deram espaço a três candidaturas abertamente pinochetistas, sendo duas delas encabeçadas por parentes de ministros ou chefes militares durante o regime do ditador.

José Antonio Kast

Considerado o principal candidato da extrema direita, José Antonio Kast, do Partido Republicano (PR), aparece em segundo lugar na maioria das pesquisas, razão pela qual muitos o apontam como favorito para disputar o segundo turno contra Jara.

Além disso, Kast tem a experiência de ter sido candidato em 2021, quando chegou ao segundo turno, mas foi derrotado pelo atual presidente Gabriel Boric – o resultado final, na ocasião, foi de 55,9% para o candidato progressista contra 44,1% para o ultraconservador.

Seus vínculos com o pinochetismo começam pelo parentesco com o economista Miguel Kast, seu irmão mais velho e já falecido. Ele era um dos Chicago Boys, os economistas ultraliberais formados na Universidade de Chicago.

O Kast mais velho passou por dois ministérios: o do Planejamento, entre dezembro de 1978 e dezembro de 1980, e do Trabalho, entre dezembro de 1980 e setembro de 1982, além de ter sido presidente do Banco Central, entre abril e setembro de 1982 – período em que acumulou duas funções.

O mais novo, que disputa as eleições presidenciais pela terceira vez, já que 2017 ficou em quarto lugar, com 7,9% dos votos. Antes disso, ocupou apenas o cargo de deputado, entre os anos de 2002 e 2018.

Evelyn Matthei

A outra candidatura de extrema direita é a de Evelyn Matthei, da União Democrata Independente (UDI). Ela representa o partido histórico do pinochetismo, que foi fundado pelo jurista Jaime Guzmán, principal intelectual do regime ditatorial.

Ex-senadora e ex-prefeita de Providencia (comuna da classe média alta de Santiago), Matthei também possui laços familiares com o pinochetismo.

Seu pai foi Fernando Matthei, brigadeiro e comandante-chefe da Força Aérea chilena entre julho de 1978 e julho de 1991, razão pela qual foi membro da Junta Militar da ditadura de Pinochet durante 12 anos.

José Antonio Kast, Evelyn Matthei e Johannes Kaiser
Rádio Universidade do Chile

O pai da candidata chegou a ser processado por suas eventuais responsabilidades nos crimes de violações aos direitos humanos ocorridos durante a ditadura, mas faleceu, aos 92 anos, sem receber uma condenação.

Antes de falecer, em 2017, viu sua filha ser candidata presidencial e terminar derrotada contra uma de suas possíveis vítimas.

Aconteceu em 2013, quando Matthei foi ao segundo turno e perdeu contra Michelle Bachelet – o resultado final, na ocasião, foi de 62,2% para a candidata do Partido Socialista, e 67,8% para a representante da UDI.

O pai da candidata socialista foi Alberto Bachelet que assim como Matthei era brigadeiro da Força Aérea durante o golpe de Estado de 1973, mas foi um dos poucos militares que tentou resistir e apoiar o presidente deposto, Salvador Allende, e por isso terminou preso, e acabou morrendo na prisão, no ano seguinte.

A morte de Alberto Bachelet foi um dos crimes pelos quais Fernando Matthei foi julgado, mas o processo não foi concluído antes da morte do ex-brigadeiro.

Johannes Kaiser

O terceiro candidato de extrema direita é Johannes Kaiser, que não tem um parentesco direto com figuras pinochetistas, mas que, em suas declarações, tem sido o mais incisivo em defender o regime ditatorial, inclusive em seus abusos aos direitos humanos.

Representante do Partido Nacional Libertário (PNL), ele tenta atrair os votos não só dos mais enfáticos defensores da ditadura, como também dos fãs do presidente argentino Javier Milei, em quem diz se inspirar.

Influenciador digital ultraliberal, Kaiser surgiu na política em 2021, ao ser eleito deputado pelo Partido Republicano de Kast, mas decidiu romper com o ex-aliado após a vitória de Milei na Argentina, e acabou fundando seu próprio partido, o PNL, tomando para si a alcunha de “libertário” adotada pelo ídolo argentino.

Porém, em diversas ocasiões, ele também defendeu a ditadura de Pinochet, inclusive justificando as violações aos direitos humanos.

Em uma entrevista a um canal de televisão local, em julho deste ano, Kaiser foi perguntado sobre se apoiaria um novo golpe militar, e respondeu dizendo que “sem dúvida, e aceitaria todas as consequências”.

Em seguida, o entrevistador questionou se ele reconhece as mortes e violações aos direitos humanos ocorridas durante a ditadura de Pinochet, ao que Kaiser respondeu que sim, e que também estaria disposto a apoiar essas mesmas práticas novamente.

“Se estamos pedindo (ao Exército) por uma luta de classes, e recebemos a resposta, não podemos esperar que ela seja pacífica”, alegou o político de extrema direita.

Durante a entrevista, ele também assegurou que perseguiria comunistas e pessoas de esquerda caso chegue ao Palácio de La Moneda.

“Estou dando um alerta, o Partido Comunista deveria sido condenado já durante o governo militar (ditadura de Pinochet), como fizeram na Polônia e na Ucrânia, e nós vamos fazer aqui no Chile se chegarmos ao governo”, advertiu.