Chile vai às urnas em eleições que contrapõem comunista e trio de extrema direita
Pesquisas mostram candidata do PC, Jeannette Jara, na liderança, seguida dos pinochetistas José Antonio Kast, Johannes Kaiser e Evelyn Matthei, todos com chances de chegar ao segundo turno
Cerca de 15 milhões de chilenos devem ir às urnas neste domingo (16/11), no que será o primeiro turno das eleições gerais do país, que inclui um pleito presidencial que escolherá o sucessor do atual presidente Gabriel Boric, que não concorrerá à reeleição.
A disputa principal apresenta oito candidatos ao Palácio de La Moneda. As pesquisas indicam que a campanha que tem atraído mais intenções de voto é a da governista Jeannette Jara, do Partido Comunista, que lidera em todas as medições publicadas até o dia 3 de novembro – data em que passou a ser proibida a veiculação de novos estudos do tipo.
Porém, atrás de Jara aparecem três candidaturas de extrema direita, todas elas vinculadas de alguma forma com o regime autoritário do ditador Augusto Pinochet (1973-1990).
Duas dessas candidaturas são de parentes de ministros ou chefes militares da ditadura, começando pela de José António Kast, do Partido Republicano, segundo colocado na maioria das pesquisas, que é irmão de Miguel Kast, que foi ministro do Trabalho do período pinochetista e que era um dos Chicago Boys – economistas ultraliberais formados na Universidade de Chicago.
Já Evelyn Matthei, candidata presidencial da União Democrata Independente, é filha do falecido brigadeiro Fernando Matthei, que foi comandante da Força Aérea chilena e membro da Junta Militar de Pinochet.
O terceiro candidato de extrema direita é Johannes Kaiser, que não tem um parentesco direto com figuras pinochetistas, mas que, em suas declarações, tem sido o mais incisivo em defender o regime ditatorial, inclusive em seus abusos aos direitos humanos.
Representante do Partido Nacional Libertário, ele afirma ser inspirado também no presidente argentino Javier Milei e já disse, em uma entrevista para a televisão local, que apoiaria “sem dúvidas a um novo golpe militar” para “evitar um governo comunista en Chile”.
Além deles, os demais candidatos são o economista Franco Parisi, do Partido da Gente; o jornalista e documentarista Marco Enríquez-Ominami, do Partido Humanista; o empresário Harold Mayne-Nicholls, independente ligado ao Partido Democrata Cristão; e o professor Eduardo Artés, do Partido Ação Proletária.
Voto obrigatório
Uma das novidades da eleição chilena este ano é que será a primeira vez desde o fim da ditadura de Pinochet, que o voto será obrigatório para todas as pessoas maiores de 18 anos de idade.
Entre 1989 – ano em que ocorreu a primeira eleição pós ditadura – e 2009, o voto era obrigatório no Chile, mas a inscrição eleitoral não era. Ou seja, as pessoas podiam ou não fazer sua inscrição no Serviço Eleitoral (Servel), mas uma vez inscritas eram obrigadas a votar, e se não eram inscritas não tinha direito a voto em nenhuma eleição.
A partir de 2012, passou a valer, para as eleições municipais daquele ano, a Lei de Inscrição Automática, ou seja, todos os cidadãos passaram a ser automaticamente inscritos no Servel a partir dos 18 anos, e com isso o voto passou a ser facultativo.
Desta vez, o voto será obrigatório e todos os maiores de 18 anos estão automaticamente inscritos, o que configura um cenário de voto obrigatório para todos, algo inédito no país.
Apesar de esta ser a primeira eleição presidencial na qual o voto é obrigatório, vale lembrar que os plebiscitos realizados durante os dois processos constituintes chilenos, entre 2021 e 2023, todos eles tiveram voto obrigatório – e todos terminaram com a população rechaçando as propostas de nova carta magna para o país.
A mudança na legislação impõe multas aos eleitores que não compareçam às urnas, as quais podem variam de 34 mil pesos (cerca de 200 reais) a 104 mil pesos chilenos (cerca de 600 reais) em caso de reincidência.

Cerca de 15 milhões de chilenas e chilenos estão aptos a votar neste domingo (16)
Servel Chile
Pesquisas
Líder nas pesquisas durante quase toda a campanha, Jara apareceu em primeiro nas últimas medições que foram feitas no país. Porém, é preciso salientar que a lei eleitoral impede a divulgação de estudos feitos nas duas últimas semanas antes do dia da votação. Por isso, as últimas publicações desse tipo foram feitas no dia 3 de novembro.
Naquele dia, a pesquisa da Atlas Intel mostrava a maior vantagem a favor de Jara, que aparecia com 33,2% das intenções de voto. Os candidatos de extrema direita Johannes Kaiser (Partido Nacional Libertário) e José António Kast (Partido Republicano) apareciam empatados em segundo, ambos com 16,8%. Atrás deles ficaram Franco Parisi (Partido da Gente), com 14,2% e Evelyn Matthei (União Democrata Independente), com 13,9%.
Outra medição que mostrou grande vantagem foi a da consultora Black & White, na qual Jara tinha 30%, Kast 23%, Kaiser 20%, Matthei 17% e Parisi 7%.
Desta vez, o voto será obrigatório e todos os maiores de 18 anos estão automaticamente inscritos, o que configura um cenário de voto obrigatório para todos, algo inédito no país.
A pesquisa Data Influye mostrava Jara com 27%, contra 20% de Kast, 13% de Kaiser, 11% de Matthei e 9% de Parisi.
A pesquisa Activa tinha o menor percentual a favor da candidata comunista, com 24,9% das intenções. Ainda assim, ela aparecia com grande vantagem sobre Kast, que tinha 16,9%. Atrás apareciam Parisi com 14,1%, Kaiser com 12,2% e Matthei com 11,2%.
Já a consultora Painel Cidadão mostrava Jara com 26% e Kast com 21%. Kaiser e Matthei apareciam empatados em terceiro com 14%, enquanto Parisi ficava em quinto lugar, com 10%.
Finalmente, a pesquisa da LCN era a única que mostrava um empate no segundo lugar, não entre Kaiser e Kast, mas entre Kaiser e Matthei, ambos com 19,3%. O candidato do Partido Republicano aparecia com 17,7%, e Parisi ficava bem atrás, com 4,5%.
A medição da LCN também mostrava Jeannette Jara na liderança, com 33,5%.
Legislativas
Além das presidenciais, a jornada deste domingo também contará com eleições legislativas, que renovarão as bancadas de ambas as casas do Congresso Nacional.
No Senado, quase metade das vagas estarão em disputa. Elas são relativas às regiões eleitorais de Parinacota, Tarapacá, Atacama, Valparaíso, Maule, Araucanía e Aysén. A câmara alta possui 50 cadeiras no total e serão renovadas 23 nesta ocasião.
No caso da Câmara dos Deputados, todas as 155 vagas da casa serão decididas nas urnas neste domingo.
Vale acrescentar que as definições, tanto na Câmara quanto no Senado, serão regidas pela Lei de Igualdade de Gênero, que impõe uma fórmula que obriga a conformação de igual quantidade de mulheres e homens nas duas casas legislativas.
Esta será a segunda vez que a Lei de Igualdade de Gênero atuará em eleições gerais. Na primeira oportunidade, em 2021, a fórmula favoreceu os homens nas eleições para a Câmara, já que as candidaturas femininas foram as mais votadas.























