‘Sionismo transformou o Holocausto em arma’, diz Norman Finkelstein
No programa 20 Minutos, cientista político norte-americano sustentou que Israel 'ilegitimamente' usa sofrimento do nazismo para driblar críticas e prosseguir genocídio em Gaza
O cientista político norte-americano Norman Finkelstein afirmou que o sionismo fez do Holocausto um instrumento político para “ilegitimamente afirmar que ninguém no mundo jamais sofreu o que os judeus sofreram” durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo ele, a narrativa serve para blindar Israel de críticas e ações legais e seguir cometendo genocídio na Faixa de Gaza.
“Eles transformaram o Holocausto nazista em uma arma”, apontou. “E como foi único, não se pode aplicar a eles princípios gerais que basicamente os isentam do sofrimento único que conferiu aos judeus”.
A posição foi dada em entrevista ao fundador de Opera Mundi, Breno Altman, no programa 20 Minutos, durante a qual o acadêmico norte-americano, um dos mais importantes intelectuais judeus críticos do sionismo, realizou críticas à política de Israel.
De acordo com Finkelstein, os três principais objetivos da ofensiva de Israel envolvem, primeiro, a limpeza étnica para tornar Gaza “livre de árabes”; segundo, a destruição da infraestrutura básica para tornar o território palestino inabitável; e terceiro, o massacre de civis para aterrorizar os sobreviventes e forçar sua fuga.
“O genocídio está sendo transmitido em tempo real. Eles dão todo tipo de desculpa para fingir que o que está acontecendo não está acontecendo, mas qualquer pessoa com uma mente minimamente lúcida pode ver. Eles estão agindo em plena luz do dia”, disse.
O acadêmico também criticou o papel das potências ocidentais. Para ele, os Estados Unidos constituem o principal cúmplice do genocídio em Gaza, pois seguem fornecendo armas, apoio diplomático e cobertura política. Já a União Europeia, segundo ele, age por “covardia”, pois os palestinos não configuram “uma preocupação política significativa o suficiente” para compensar a entrada em conflito com os EUA.
“Eles não consideram a vida e a morte dos palestinos uma questão suficientemente importante para justificar uma ruptura com os EUA. Eles consideram as tarifas uma questão mais importante do que os palestinos. As tarifas são mais valorosas do que as vidas e as mortes dos palestinos”, afirmou.
Em relação ao 7 de outubro de 2023, Finkelstein classificou o ataque do Hamas como “terrorismo”, mas sendo ele inevitável em meio a um massacre não televisionado de Israel contra os palestinos.
“O povo de Gaza não tinha opções. Até 7 de outubro [de 2023], haviam esgotado todas as opções de conseguir um acordo diplomático, confiar nos mecanismos do direito internacional, resistência civil não violenta. Eles esgotaram todas essas opções”, disse. Desta forma, considerou a ofensiva do grupo palestino planejada para abalar o “status quo” e “forçar o mundo a enfrentar o fato de que os palestinos em Gaza não aceitariam seu papel de simplesmente definhar e morrer em um campo de concentração”.
“Não iriam morrer em silêncio”, destacou.

O cientista político norte-americano Norman Finkelstein, filho de sobreviventes do Holocausto, é um dos mais importantes intelectuais judeus críticos do sionismo e da política de Israel
Divulgação/normanfinkelstein.com
Sionismo e nazismo
Finkelstein avaliou que o sionismo chega a se tornar “pior” do que o nazismo quando comparamos o contexto envolvendo os dois genocídios, embora reconheça a diferença no que diz respeito à magnitude das atrocidades, como por exemplo o número total de mortes provocadas pelo Holocausto – que gira em torno de cinco e seis milhões – e o de mortes causadas por Israel – mais de 60 mil atualmente, conforme o Ministério da Saúde de Gaza.
Segundo o acadêmico, o genocídio de judeus foi promovido por uma Alemanha nazista que sustentava o totalitarismo e tentou ocultar a matança em meio à Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, o genocídio de Israel contra palestinos é “transmitido em tempo real” e os israelenses “dão todo tipo de desculpa para fingir que o que está acontecendo não está acontecendo.
“A Alemanha nazista era um Estado totalitário. Durante a guerra, o povo alemão estava sendo bombardeado dia após dia, bombardeado sob a alegação de que a guerra havia sido causada por uma conspiração judaico-bolchevique”, disse. “Mas no caso de Israel, não é um Estado totalitário. Eles têm o maior uso da internet per capita do que qualquer outro país do mundo. Seus soldados estão postando nos sites o que estão fazendo”, acrescentou, chamando os soldados israelenses de “executores voluntários do genocídio”.
Netanyahu é espelho de Israel
Questionado sobre o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, Finkelstein considerou a figura política como sendo uma expressão do projeto sionista. Para ele, o premiê é “o espelho perfeito da sociedade israelense”.
“Essa obsessão e fixação em Netanyahu foi criada para desviar a atenção do fato de que há um amplo consenso em todo o espectro político e um amplo consenso em toda a sociedade judaica israelense que apoia os principais objetivos de Netanyahu. O principal objetivo do Netanyahu é resolver de uma vez por todas a questão de Gaza e também, se possível, a questão da Cisjordânia e as questões regionais”, explicou.
O acadêmico, entretanto, lembrou que a expansão colonial e a opressão contra os palestinos são políticas naturalmente costuradas pelo Estado de Israel, independente de quem assuma o poder.
Lobby sionista nos EUA
Finkelstein revelou que há uma “classe bilionária supremacista judaica” nos EUA que, devido ao alto poder aquisitivo, detém grande influência sobre diferentes setores norte-americanos, incluindo na educação. Segundo o acadêmico, a categoria fornece à AIPAC (Comitê de Assuntos Públicos Americano-Israelenses) um “grande lobby de Israel com uma grande quantidade de dinheiro”.
O especialista ainda mencionou a demissão de três professores presidentes da “Ivy League” – das universidades de Harvard, da Pensilvânia e da Columbia – que foram destituídos sob ameaça sionista de que, se não cessassem as manifestações pró-Palestina, seriam retidas as contribuições financeiras.
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