Sábado, 6 de dezembro de 2025
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No programa 20Minutos Entrevistas desta quarta-feira (31/03), o jornalista Breno Altman entrevistou o dirigente do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e historiador Valério Arcary. Para ele, Jair Bolsonaro só será derrotado por meio de mobilizações populares e frente única de esquerda.

“Apenas a frente única de esquerda permite combater o perigo neofascista e abrir caminho para um governo de esquerda. A frente única de esquerda dos partidos é a superestrutura organizada que se apoia em movimentos sociais e que pode chamar as massas para as ruas. E Bolsonaro deve ser derrotado nas ruas porque o neofascismo não se derrota só nas eleições”, defendeu.

Arcary reforçou a necessidade de mobilizações populares uma vez que haja segurança sanitária no país, com a frente única incendiando esses movimentos. “É preciso realizar promessas sérias que motivem os grupos a saírem para as ruas. Legalizar o aborto, criminalizar as queimadas na Amazônia, revogar o teto de gastos. Isso com frente ampla não é possível. Porque frente ampla é a esquerda seguindo o programa liberal em troca de se livrar de Bolsonaro em 2022”, argumentou.

Para o dirigente, na frente única estariam PT, PSOL, PCdoB, PCB e PSTU, que deveriam apresentar uma alternativa eleitoral comum. 

“A esquerda deveria procurar ter uma candidatura unificada em 2022. O que é decisivo para que isso aconteça é a tática. O PSOL não vai dar apoio acrítico e incondicional a Lula só porque ele é o maior líder popular do Brasil. Para ter o apoio engajado do PSOL, é necessário uma negociação programática”, afirmou.

Arcary criticou o atual programa do Partido dos Trabalhadores de reforma e transformação do Brasil, pois, para ele, é insuficiente. No entanto, “com um acordo programático, Lula unifica e representa a esquerda desde o primeiro turno”.

O historiador não descartou em nenhum momento a importância de Lula no atual cenário político, afirmando, inclusive, que sua reabilitação política é um fator de esperança e que contribui para o enfraquecimento de Bolsonaro. 

Fragilização de Bolsonaro

Arcary explicou que a pandemia, as divisões internas da burguesia – em referência ao manifesto dos 500 – e a recuperação dos direitos do ex-presidente Lula são o centro da fragilização de Bolsonaro.  

“O momento indica uma transição, estamos saindo de uma dinâmica reacionária. O setor que colocou Bolsonaro no poder ainda não quer derrubá-lo e ele ainda conta com um apoio considerável, mas está sob muita pressão e é nesse contexto que temos que pensar nossa tática”, ressaltou.

Em entrevista a Breno Altman, dirigente do PSOL propõe mobilizações em 2021 para poder derrotar Jair Bolsonaro nas urnas; veja vídeo na íntegra

Arcary ponderou que esses acontecimentos, um depois do outro, forçaram uma reação por parte de Bolsonaro: “o governo tinha que reagir diante disso. Porque Bolsonaro evidentemente tem como estratégia sua reeleição, depende dela pois não teve tempo de colocar sua política em prática. A pandemia retardou todas as transformações que a elite empresarial esperava dele”.

57 anos depois: situação atual se assemelha ao Golpe de 64?

A reação de Bolsonaro ao enfraquecimento e perda de apoio entre as camadas do centro político está se traduzindo em uma aproximação cada vez maior com as Forças Armadas. “Ele faz isso para gerar obediência”, explicou Arcary. Bolsonaro toma decisões que são consensuais com seus aliados, mas se utiliza das figuras militares ao seu redor para provocar obediência uma vez que sejam tomadas essas decisões.

A tríplice demissão dos três chefes das Forças Armadas na terça-feira (30/03) pode enfraquecê-lo. “Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Ele queria se fortalecer, mas essa decisão pode se voltar contra ele, pois pode ter gerado ressentimentos e desconfiança. A ala militar que aceitou participar do governo pode estar percebendo que tem menos força do que pensava”, ponderou Arcary.

Tais posturas por parte do presidente estão gerando medo entre a população de que Bolsonaro esteja anunciando um golpe militar. Exatamente 57 anos após o golpe de 1964, muitos comparam a situação atual com a anterior. O dirigente, no entanto, afirma que são diferentes, não só pelo contexto histórico, mas porque a elite, que no passado facilitou o golpe militar, hoje não tem as mesmas intenções.

“A classe dominante não é a favor de criminalizar a esquerda, por exemplo. O projeto da classe dominante é manter o regime democrático neoliberal e construir uma derrota histórica pela desmoralização da esquerda. Era o papel da Lava Jato”, disse.

Isto não significa, contudo, que a situação atual não seja grave: desde o golpe contra Dilma “o regime vem sendo deformado, ainda que não subvertido”.

O historiador, porém, tem uma opinião até certo ponto otimista. Ele espera que o ódio que se acumula contra Bolsonaro seja o suficiente para que até mesmo suas bases de apoio se voltem contra ele.

“Bolsonaro vai ter que lutar para conseguir um lugar no segundo turno [durante as eleições]. Um ano no Brasil é muito tempo e ele vai ter que carregar a responsabilidade por centenas de milhares de mortes, desemprego em patamares altíssimos e um sentimento de desgaste, fadiga e ódio que se acumulam contra ele”, afirmou.